O futuro da moda
Muito se fala sobre como será a moda depois da recessão devido à pandemia do Coronavírus. Um dos setores que mais sofreu neste período, com quedas de faturamento, segundo pesquisa do Sebrae com FGV, de 77% em abril e 67% em maio, a moda passa por um raio-x de especialistas da área tentando apontar seu futuro emergente, como será o consumo, como será o consumidor, como será a comunicação, como será a distribuição, enfim, muitos questionamentos para delinear um amanhã – ou seriam vários?
Sim. A gente divide o pensamento como o especialista em marketing André Caravalhal: não vai haver um único comportamento porque não existia um único tipo de consumidor, também não vai haver um único futuro porque existem muitos presentes. Interessante, não? Sob essa ótica, podemos entender que as transformações e mudanças serão distintas conforme o grupo, os ideais, as prioridades, os desejos. Tanto que um dos movimentos que se acendeu durante a pandemia foi o de um consumo sustentável, extremamente relevante para um momento de repensar. Entretanto, ao abrirem as primeiras lojas na Europa, filas se formaram em redutos de fast fashion que nada se relacionam a esse ideal. Não ia mudar? Sim. Mas tudo depende para quem e de quem falamos. Portanto, apontamos alguns rumos, algumas nuances, algumas propostas que podem ou não se confirmar, afinal, estamos falando de um dos assuntos mais orgânicos do mundo, a moda.
Consumo sustentável: isso é novidade? É para todos? Não e não. Fala-se de sustentabilidade e justiça em todos os processos de moda, da produção à distribuição, do contrato com fornecedores até o justo pagamento dos profissionais da cadeia, da escolha de materiais que não agridam a natureza ao descarte correto de resíduos, há muito tempo. O que aconteceu agora foi um aceleramento dessa necessidade em quem já se mostrava simpatizante do assunto e em empresas que já estavam adequando suas operações, grupo bastante significativo, com certeza. Se for comprar, compre de quem produz da melhor forma possível, respeitando o meio ambiente e a mão de obra.
Consumo consciente: neste período de reclusão, muitas pessoas começaram a se dar conta de quem tem demais, de quem não precisam tantas roupas, tantos sapatos, tantos acessórios, né?! Que podem fazer escolhas mais assertivas e que perdurem mais no seu closet tendo mais consciência de estilo, das suas necessidades, dos seus desejos reais – deixando um pouco de lado a empolgação por tendências efêmeras. Logo, há um movimento muito forte para um consumo mais coerente, ou seja, menos consumista, mais consciente.
Consumo local: com o enfraquecimento da economia mundial, uma das bandeiras defendidas por influenciadores e especialistas em marketing e economia nas redes sociais, que ganhou até um selo de apoio do próprio Instagram, foi a de estímulo aos pequenos produtores locais. Sim. Esses precisam de holofotes, de apoio, de vendas para manter as portas abertas, o que se tornou primordial para minimizar os riscos de desemprego e a iminente catástrofe econômica. Esse movimento é um dos que tendem a se fortalecer, também aliado à busca por um consumo sustentável. Fazer girar a econômica criativa de cada região é uma tendência significativa, apoiada também por futuras dificuldades de distribuição de produtos com as novas regras de transporte que devem surgir pós-pandemia – o que pode, inclusive, alterar para cima os valores das roupas nas grandes redes, tornar a logística de distribuição mais lenta e dificultar o acesso aos importados de preço acessível. Ou seja, comprar do pequeno, além de ser mais lógico, bondoso e criativo, futuramente talvez até mais barato.
Propulsão criativa: e o sonho da moda? Este deve se tornar mais fascinante do que nos últimos tempos. Se as coleções de moda andavam menos surpreendentes, mais básicas, tendem a voltar muitos mais oníricas, criativas, envolventes, reforçando o valor essencial da moda de passarela, o de provocar sensações, mexer com as emoções, fazer sonhar e estimular o desejo por algo único.
Boom do conforto como estilo: se por um lado, temos o sonho, do outro, temos o conforto. Neste período de home office imposto, a maioria das pessoas teve o prazer de experimentar o vestir sem amarras, usando peças típicas de um estilo que tende a crescer cada vez mais, o homewear. Flerte da moda de rua com o esportivo, em tecidos gostosos de vestir, como algodão, tricô e moletom, privilegia peças de fit mais amplos e detalhes anatômicos. Bom frisar que a prática do home office é uma das tendências comportamentais depois da pandemia, o que confirma a estabilidade futura deste estilo. Criadores, fiquem de olho!
Diálogos entre o físico e o virtual: fotografias via zoom, desfiles via live com roupas apresentadas em 3D sem modelos, live streaming shopping, live com conteúdos de seminários, campanhas e editoriais fotografados como selfies, comerciais produzidos pelos próprios protagonistas, a maneira das marcas se comunicarem, dos veículos se comunicarem mudou. Será sempre assim? Claro que não, mas o advento digital, as multitelas, o uso de diferentes plataformas tende a se expandir cada vez mais, criando novas linguagens para apresentar, divulgar, vender produtos.
E-commerce: bem, não temos como falar de futuro sem vendas on-line. Se antes era bem-vindo, hoje já é fundamental. E não é preciso nem mesmo um site estruturado, já que redes sociais e WhatsApp entram como parceiras das vendas virtuais.